22% e morre um panda se escrever Geração Z
A galera decidiu que 2025 é o ano de empreender. Mas é só isso mesmo?
22%. É quanto cresceram as buscas pelo termo MEI (Microempreendedor Individual) no Google neste ano, depois de dois anos de queda. Topei com essa sacada da Você S/A esses dias e o assunto ficou na minha cabeça. Fui fazer a minha própria pesquisa e eis que:
Sim, nunca se buscou tanto por informações sobre MEI, com um pico em janeiro de 2025. Início de ano, todo mundo quer mudar de vida, sabe como é.
Claro, vocês vão notar que tem umas observações nessa linha do tempo. É quando o tio Google faz ajustes na coleta de dados. Dá para dizer que é um recorde desde pelo menos 2022, enfim.
Hoje você vai saber:
Geração Z, sempre eles
O que isso tem a ver com você, sendo MEI ou não
Um basicão sobre MEI
Geração Z, sempre eles
O Brasil está mudando, é um fato. A tradicional CLT segue com força, são quase 40 milhões de brasileiros com carteira assinada, mas não reina absoluta. A reforma trabalhista de 2017 mudou um pouco o jogo.
Há quem goste da reforma trabalhista, geralmente empresários e economistas, e há quem deteste, geralmente sindicatos e movimentos sociais.
O fato é que ficou mais comum encontrar formas de trabalho com menos regras do que a CLT - isso pode explicar parte da popularidade crescente do MEI.
Tem gente que chama isso de pejotização também - ou seja, contratos de trabalho mais flexíveis, mas com obrigações de um CLT.
O outro lado dessa história é comportamental. Todo dia tem alguém falando que a Geração Z não se importa mais com um emprego fixo e todo formal, pensa mais em se virar por conta própria e/ou empreender - um caminho é ser MEI, por exemplo. Virou trend e tudo no TikTok.
Não sou fã dessa linha de raciocínio porque o Brasil é muito diverso e a Geração Z são muitas. E po, deixem a Geração Z em paz, tudo são eles agora.
Perguntas sinceras: a Geração Z quer ser mais livre mesmo ou será que a oferta de empregos CLT já foi melhor ou mais interessante? Ou, ainda, será que a CLT está em vias de desaparecer mesmo e esses jovens foram pegos em cheio por essa onda? A Geração Z é super empreendedora mesmo ou querem que eles acreditem que é o futuro?
Pode ser ainda que as pessoas estejam fazendo as contas e entendam que o salário líquido mais alto de uma vaga no regime PJ pareça mais atraente do que um cargo CLT - mas será que essa conta está certa?
Hipóteses apenas, nenhuma deve explicar tudo e a verdade deve estar no meio do caminho. Se você quer saber mais sobre isso, eu adorei esse papo da sempre competente Natuza Nery n’O Assunto.
O que isso tem a ver com você, sendo MEI ou não
Respire fundo, vamos avançar algumas casas.
Se a gente concordar que, pelos números do Google, mais gente quer ser MEI hoje em dia (ou já é e tem muitas dúvidas), isso ajuda a explicar outro dado: o desemprego está bem baixo para os padrões brasileiros.
Alguém com emprego pode ser um monte de coisas: CLT, servidores públicos, donos de pequenos negócios, autônomos com vários clientes e alguma formalização (contrato, por exemplo) e informais (trabalham para uma ou mais pessoas/empresas, geralmente sem nada por “escrito”).
Podem ter CNPJ ou não, podem emitir nota, podem receber “por fora”, podem trabalhar para o Ifood ou a Uber etc. e tal.
Fica difícil amarrar as pontas dessa conversa e achar que Geração Z é um grupo uniforme que quer a mesma coisa, não?
Juntando tudo…
Desemprego baixo é sinal que a economia anda crescendo bem, mais até do que EUA e China, por exemplo. Crescer é bom? Claro que é, significa que tem mais dinheiro circulando para todo mundo.
(ok, estamos crescendo com inflação alta, algo menos interessante, mas isso é assunto para outra hora)
Voltando. É bom ter mais gente trabalhando? Claro que é! Nem tão bom é que a gente conviva com diversas classes de trabalhadores, alguns com muitos direitos e benefícios, outros só com a renda mesmo.
Aos números: os trabalhadores CLT são 39,6 milhões de pessoas. Esse é o lado super positivo. O lado menos positivo: empregos sem carteira, autônomos e informais somam 78,8 milhões, o dobro da CLT.
Mais: o Brasil tem 60 milhões de CNPJs registrados e 11,5 milhões de MEIs. Há diversas sobreposições nos números deste parágrafo e do anterior, obviamente.
O fato: as pessoas estão se virando e ganhando dinheiro, mas com menos proteção social e menos benefícios. Tem gente voando solo e se dando bem? Certamente que sim. Mas não é a regra, basta lembrar que a renda per capita do Brasil ainda é menor até do que a vizinha Argentina, que passou as últimas décadas bem mais caótica do que a gente.
Para o futuro, fica a pergunta: depois de gastar o básico para sobreviver, os empreendedores, autônomos e informais estão conseguindo juntar grana para ter uma aposentadoria confortável ou alguma aposentadoria? Eu chuto que não até que me tragam dados. Ajustando a pergunta: se você trabalha em alguma dessas categorias, está sobrando dinheiro pro futuro?
Pra terminar: deu para entender que resumir em “a Geração Z rejeita emprego fixo” ou “todo mundo quer empreender hoje em dia” conta só parte da história?
Um basicão sobre o MEI
O MEI é uma empresa simplificada, que paga menos impostos e é fácil de cuidar. É útil se você é um profissional autônomo ou tem um pequeno negócio.
Erro mais comum: não pagar a DAS todo mês. É um imposto de valor baixo e que dá direito a alguns benefícios do INSS
Também é preciso fazer uma declaração anual, como a do o Imposto de Renda. Mas é outra declaração, com outra data e outros processos. Vem aprender mais aqui
Se você é CLT e MEI ao mesmo tempo, para fazer um dinheiro extra, fica a dica: se for demitido sem justa causa e tiver emitido nota nos últimos 90 dias, é provável que você perca direito ao seguro-desemprego
Ah, o limite de faturamento é R$ 81 mil por ano. Há um projeto no Senado para subir para R$ 130 mil, mas ainda não está valendo.
Se você passar esse limite (ou fez as contas e vai passar em breve) é melhor mudar para uma Microempresa (ME), ainda relativamente simples, só que um pouco mais de burocracia e um tanto mais cara de manter.
Essa foi a primeira edição de “Um número para chamar de seu”, um jeito de falar sobre números, dados e estatísticas sem ser chato. Prometo que vou tentar não te matar tédio, só não sei se vou conseguir. Se você chegou até aqui, muito obrigado! Espalhe por aí o link, recomende para os amigos e siga lendo.